Metodologia de Trabalho

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pilares práticos utilizados como referência na construção do jogar
Entendimento e reflexões em busca de nortear a elaboração de um Modelo de Jogo
Leonardo Gondim*
Intrínsecos ao processo de modelação, hierarquização e construção do “jogar” que o futebol moderno exige, encontram-se o entendimento e detalhamento das fases e momentos inclusos dentro de uma partida.
Considerando a complexidade do jogo, oriunda da somatória de ações instantâneas e de ocorrência aleatória, busca-se a identificação das ações maiores que norteiam o jogo.
No intuito de gerar um melhor entendimento para os leitores, denominar-se-ão essas ações maiores que atuam em um jogo de futebol como “pilares práticos da construção do jogar”. Neste sentido cabem reflexões sobre o entendimento dos conceitos de fase e momento, pois se pode dizer que o jogar consiste em fases precedidas por momentos de alteração de postura.
Tem-se, como conceito de momento, uma ação instantânea, ou seja, algo imediato. No entanto, por fase pensa-se em um processo que passa por inicio, condução e conclusão. Sendo assim, vamos entender essa sequencia de ações.
Serão abordados, então, os ditos “pilares de entendimento” referentes ao “jogar”, quais sejam:

- Organização defensiva -> Transição ofensiva -> Organização ofensiva -> Transição defensiva – (Exemplo de organização de postura referenciado pelos pilares práticos da construção do jogar)
Faz-se necessário ressaltar que, de acordo com um entendimento global do jogo, os quatro pilares apresentados estão intimamente interligados, manifestando-se de modo contínuo e com sequência randomizada.
Como uma abordagem inicial, buscaremos refletir sobre o conceito e alguns desdobramentos relacionados à organização defensiva.
Inserida a um sistema de relações que constitui o modelo de jogo, a organização defensiva engloba ações coletivas que, margeadas por princípios defensivos, conduzem a postura de uma equipe quando em ação “marcadora” (sem a posse da bola ou, com a mesma, de modo que exista um balanço defensivo – jogadores que, mesmo sem o poder da posse da bola, organizam e preocupam-se com a futura obrigação em defender- Conceito abordado em seguida).
Ou seja, pode-se conceituar organização defensiva como o ato coletivo atuante em prol da neutralização dos objetivos ofensivos do oponente, de modo a utilizar princípios defensivos elaborados e inseridos no modelo de jogo.
Sendo assim, alguns exemplos de organização desta manifestação tática do jogo, ou seja, algumas maneiras ou padrões para marcar as ações ofensivas do adversário, serão analisados.
O autor português Castelo, defende que a organização do processo defensivo baseia-se em três aspectos importantes:
- Equilíbrio/balanço defensivo: ocorre em situações em que, ainda em poder da posse da bola, a equipe visa se organizar e se preparar para uma futura obrigação em defender;
- Recuperação defensiva: tem início à medida que a equipe tenha sido impossibilitada de recuperar a bola imediatamente ao momento de perda, e sua duração se dá até ao momento de obtenção do padrão defensivo estipulado pelo modelo de jogo;
- Defesa propriamente dita: Aplicação prática do padrão defensivo da equipe e dos princípios defensivos pré estabelecidos, sejam coletivos ou individuais;
Tendo em vista as ferramentas que irão estruturar o tipo de organização do processo defensivo escolhido pelo treinador, serão abordados, por fim e de modo genérico, alguns exemplos dos referidos tipos:
- Defesa individual x defesa “homem a homem”: Marcar individualmente significa demonstrar preocupação com indivíduos que sejam decisivos às ações do jogo. Esse método evidencia situações de “um contra um” e igualdade numérica, porém, um defensor não executa a marcação em um mesmo jogador de ataque por toda a passagem defensiva, logo, trocas de marcação são constantemente executadas.
Como defesa “homem a homem”, por outro lado, entende-se a preocupação individual, seguindo os mesmos preceitos da marcação individual, em relação a jogadores decisivos, porém, a diferença consiste no fato de um defensor seguir executando a marcação em um mesmo jogador de ataque, até o final de uma passagem defensiva.
COMENTÁRIO DO VÍDEO GERADO PÓS-EDIÇÃO:
- Nos trechos demonstrados, nota-se uma grande preocupação em marcar a saída de bola do Barcelona e os chamados “abertos e profundos” (pontas) da equipe Catalã. Os zagueiros extremos da equipe do Bilbao executam perseguições aos pontas quando os mesmos se deslocam para o centro do campo, não se importando com o espaço que, possivelmente, se forme através desse deslocamento. Uma clara demonstração de organização defensiva “homem a homem”.
De modo geral, nota-se, nos dois métodos, o predomínio de referências defensivas individuais, ou seja, entende-se que o adversário é sempre perigoso, independente de sua localização.
- Defesa à Zona: Método que possui os espaços ocupados como maior referência dentro de ações de marcação, logo, o intuito maior é ocupar, de modo coletivo, os espaços mais perigosos do campo. Por espaço perigoso entende-se aquele próximo a bola e os ocupados pelas primeiras opções de apoio ao jogador detentor da posse, ou seja, é um método que exige uma ocupação de espaço racional e equilibrada, de modo a induzir o adversário a atuar em zonas mais densas do sistema defensivo da equipe que marca.
- Defesa à Zona Passiva: Forma de defender que apresenta como objetivo o encurtamento de espaços, criando dificuldades de ação ao ataque adversário, até que haja o erro.Consiste num método de defesa que não apresenta uma luta incessante em busca da bola, e sim uma postura paciente e indutiva, de modo a esperar o erro do adversário.
COMENTÁRIO DO VÍDEO GERADO PÓS-EDIÇÃO:
- Apesar de, em alguns poucos momentos, a seleção da Escócia apresentar um comportamento mais intenso no intuito de retomar a posse de bola, em grande parte do jogo a mesma demonstrou que pretendia manter uma organização defensiva baseada na ocupação horizontal de seu campo defensivo, demonstrando uma postura paciente, taticamente dedicada e voltada a diminuir os espaços ofensivos da seleção espanhola. Aguardar o momento de erro, mesmo que, neste trecho do vídeo, o mesmo não tenha ocorrido.
- Defesa a Zona “Pressionante”: Apresenta intuitos similares aos da defesa a zona, porém, possui uma vertente mais “agressiva” em momentos de pós-ocupação racional e equilibrada do espaço. Ou seja, define-se uma ocupação espacial densa e “ataca-se” o adversário de forma intensa quando o mesmo atuar neste espaço.
COMENTÁRIO DO VÍDEO GERADO PÓS-EDIÇÃO
- No vídeo acima, apesar da ênfase ser dada à posse de bola executada pela equipe do Real Madrid, pode-se observar uma organização defensiva zonal passiva, onde os atletas do Ajax tentam induzir a equipe merengue ao erro. Há uma abordagem mais enfática somente nos momentos que os atacantes adversários ocupam a última linha defensiva do Ajax (próximo a entrada da grande área). Um exemplo de organização defensiva zonal, passiva!
Posteriormente a este primeiro contato com os pilares de construção, serão aprofundadas discussões sobre os tipos de organização mencionados para então, em breve, dar inicio a reflexões sobre transição ofensiva, organização ofensiva e, por fim, transição defensiva.
Por além dos conteúdos abordados, ficam evidentes as inúmeras possibilidades de se organizar e conceituar ações táticas dentro das diferentes fases do jogo.
Ou seja, mãos a obra! Temos muito a pensar e construir dentro de um modelo de jogo!
Muito obrigado e até a próxima!
“O pensamento é livre, a discussão, obrigatória!”

*Bacharel em Esporte – Escola de Educação Física e Esporte/USP
Contato: gondim.leonardo@gmail.com

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

1-3-4-3: dinâmicas da organização defensiva e ofensiva
Alguns apontamentos sobre os sistemas defensivo e ofensivo do 1-3-4-3 na tentativa de explorar melhor suas possibilidades
Leandro Zago

“A autonomia organizada no jogo de futebol (dos seus elementos), 
pressupõe liberdade e sentido para a ação”
(Leitão, 2009)

A disposição dos jogadores em um campo de futebol costuma dizer pouco sobre o que realmente é a equipe. A partir de um desenho pré-definido para a ocupação do espaço de jogo, há uma intenção (jogadores - individual e equipe - coletiva) em manter essa organização durante a partida, pois isso é visto como algo vantajoso para o êxito dentro de campo. O esquema tático ou plataforma tática (Leitão, 2009) varia entre as equipes e dentro da mesma equipe ao longo dos jogos. Passando para as possibilidades dentro das plataformas, essa variedade se torna praticamente infinita.
Serão exploradas algumas situações pontuais dentro do sistema defensivo e ofensivo do 1-3-4-3 (equipe amarela nas figuras) com o meio de campo estruturado em um losango. Neste momento, não serão abordadas situações de transição (ofensiva e defensiva) especificamente.
- Sistema Defensivo: basicamente, as situações estão relacionadas à ocupação do espaço.





Figura 1 – Flutuação e Equilíbrio Horizontal
Na figura 1, a equipe amarela flutuou para o lado da bola na tentativa de gerar superioridade numérica, com as linhas de defesa (três jogadores) e meio (quatro jogadores) bem agrupadas permitindo pressionar a bola nessa zona do campo. Como consequência desse movimento, o lado oposto fica fragilizado podendo ser explorado pelo adversário. 


No “1-3-4-3 losango”, as linhas de defesa e meio são “estreitas”, a de defesa pelo número de jogadores (3) e a linha de meio-campo pela disposição no espaço (a figura de um losango). Isso faz com que os atacantes que jogam abertos tenham que trabalhar muito defensivamente, aquele do lado da bola pressionando o espaço (na figura acima ele está gerando pressão por trás do portador da bola) e o outro atacante deve ocupar a faixa contrária à da bola, mantendo um bom equilíbrio horizontal.





Figura 2 – Estruturação do espaço na Pressão Alta
Numericamente, o 1-3-4-3 favorece a ocupação do campo adversário. Porém, deve-se concentrar em não permitir que a bola saia do campo de ataque de maneira confortável para o adversário, pois essa vantagem numérica se reverte em desequilíbrio defensivo. Para isso, duas questões são fundamentais: pressão na bola e gestão eficaz do espaço.
Na figura 2, pode-se observar dois desenhos de meio-campo pressionando alto, um com uma figura de maior área (à esquerda) e outro com uma figura de menor área (à direita). Com maior espaço ocupado, pode-se pressionar a bola em zonas mais variadas caso o adversário consiga manter uma boa circulação sob pressão. Um losango menor mantém mais jogadores próximos à bola dificultando sua saída dessa região do campo. É uma questão de leitura (individual e coletiva) e aplicação da melhor resposta de maneira circunstancial.


- Sistema Ofensivo: as situações abordadas relacionam-se à primeira fase de construção e ao ataque ao espaço na última linha.




Figura 3 – Circulação da bola no campo defensivo
A forma como os jogadores da equipe em posse que estão sem a bola ocupam o espaço tem total interferência na capacidade de circulação e de retirada da bola das zonas de pressão construídas pelo adversário. Na figura 3, num primeiro momento (à esquerda), o portador da bola tem duas opções de passe, uma bola curta e outra média com certo risco de perda. Nenhuma opção de passe em progressão. 


Com duas movimentações (à direita), foram construídas quatro opções de passe, sendo uma em progressão e o campo foi aumentado para trás (goleiro). Com mais opções, fica dificultada a ação pressionante da equipe vermelha – essa situação gera mais momentos de indecisão à equipe sem bola.




Figura 4 – Ataque ao espaço pelo meia ofensivo
O meia ofensivo do losango pode criar superioridade numérica na linha de ataque sempre que atacar os espaços na linha de defesa no tempo correto. Jogando contra equipes que atuam com linha de quatro defensores e marcam individual por setor sustentando um defensor “na sobra”, realizando a cobertura na zona central, haverá espaço nos corredores entre os zagueiros e os lateriais conforme está destacado na figura 4. 


Além dessa situação descrita especificamente, o entendimento do conceito de atacar o espaço nos corredores da linha sempre se tornará um comportamento vantajoso, independentemente se a bola for passada ou não. Caso enfrente uma equipe que marca por zona, esse movimento poderá contribuir para “empurrar” a defesa para trás quando não houver pressão na bola, criando espaços na frente da linha defensiva.
Tão importante quanto entender essas questões estratégicas, é perceber como a equipe responde aos problemas e se essa resposta está sendo efetiva para solucioná-los. É fundamental que os atletas entendam o significado de cada movimento da equipe para que possam alinhar com sua percepção do jogo.