Metodologia de Trabalho

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Condicionamento físico para futebolistas através de treinos em campo reduzido
Para se alcançar alto nível de rendimento é necessário treinar em alto nível de intensidade e com volume coerente (consistência)
Francisco Adolfo Ferreira
A metodologia de treinamento do futebol através dos jogos em campos reduzidos, muito utilizada pelas equipes europeias, tem demonstrado ser uma excelente ferramenta para aquisição e manutenção de condicionamento físico e técnico por apresentar um conjunto de características essenciais ao futebol, como:

a) Especificidade (situações de treino próximas à realidade dos jogos);

b) Componente motivacional por proporcionar aos atletas atividades com bola e com desafios/metas a serem perseguidas através da competição/jogos com bola;

c) Modalidade de treinamento coletiva, extremamente dinâmica e com situações de exigência múltipla, pois demanda grande rapidez de raciocínio quanto a “o que, como e quando fazer” devido à elevada pressão de tempo e espaço, o que contribui para o desenvolvimento cognitivo (inteligência de jogo) do atleta;

d) Induz à valorização da posse de bola e ao envolvimento da equipe adversária através dos toques rápidos e curtos com deslocamentos constantes. Estilo de jogar tão badalado hoje em dia graças ao fenômeno Barcelona de Messi e Cia;

e) Demanda de agilidade e velocidade de deslocamentos em curtos espaços;

f) Intensidade elevada proporcionada pelo espaço reduzido que acarreta grande incidência de disputas pela posse da bola e obriga os constantes deslocamentos dos demais atletas para os espaços vazios a fim de se oferecerem como opções às situações problema enfrentadas pela equipe;

g) Trabalhar repetidamente as atividades de alta intensidade e curta duração, inerentes à modalidade (arrancadas, frenagens, giros, saltos, dribles, fintas, combates e disputas individuais, etc.). Neste item em particular, vale ressaltar que, nos pequenos jogos o tiros curtos são ainda mais predominantes em detrimento dos tiros acima dos 25m (que representam apenas em torno de 5% do total de tiros em um jogo de futebol). Os tiros repetidos em distâncias maiores do que 25m sobrecarregam a musculatura posterior da coxa, aumentando a probabilidade de lesões musculares a médio e longo prazo em uma temporada longa e intensa;

h) Tem características de treino intervalado por apresentar pausas para recuperação quepermitem a manutenção da atividade em alta intensidade por períodos mais prolongados no somatório final do tempo efetivo de treinamento.

Resumindo: os jogos em campo reduzido devem ser planejados de maneira muito criteriosa em termos de volume/intensidade e de acordo com as fases da temporada, englobando um desafio quantitativo no que se refere a: tamanho do campo; número de jogadores; tempo de jogo e número de séries; tempo de pausas; exigências de precisão técnica e restrições aplicadas pelas regras específicas adotadas nessas práticas a fim de se aumentar o grau de dificuldade/intensidade.

Treina simultaneamente e em intensidade os aspectos técnico/tático/físico, sem necessidade de grandes volumes, o que significa aproveitamento mais racional do tempo destinado ao treinamento da equipe ao longo de uma temporada. Treinos curtos, porém eficientes e multifuncionais.

O holandês Raymond Verheijen, conceituado preparador físico com atuação nas Seleções da Holanda, Rússia, Coréia do Sul, País de Gales e também em clubes como Barcelona, Chelsea, Manchester City e Zenith, sugere uma planilha priorizando treinamentos em forma de jogos
em campo reduzido que poderia ser aplicada ao longo de toda uma temporada, utilizando como treinamentos complementares os treinos de preparação de velocidade; de agilidade e velocidade em curtas distâncias com pausa curta e com pausa longa (que podem ser aplicados
nos aquecimentos). Os demais treinos seriam os tático-posicionais, as jogadas ensaiadas, de finalização e, por fim, as sessões de treinamento funcional através de exercícios naturais com o objetivo de fortalecimento músculo-articular tanto para performance como para prevenção.

Treinamentos na sala de musculação seriam muito raros, dada a não especificidade de grande parte dos aparelhos em relação aos movimentos realizados no campo, portanto, seriam mais utilizados pelos fisioterapeutas para reabilitação e correção. Na planilha abaixo observamos
ciclos subsequentes de seis semanas, os quais são repetidos ciclo após ciclo, mas sempre com um aumento de intensidade na sequência.

Ao analisarmos esta planilha fica evidente a obediência a alguns dos princípios básicos do treinamento esportivo: Especificidade; Continuidade; Variabilidade; Progressividade; Sobrecarga e Recuperação provocando continuamente a quebra da homeostase através de estímulos com volumes e intensidades variadas e/ou alternadas.

Esta planilha de treinos foi idealizada para realização de uma sessão de treino em campo reduzido por semana. Logicamente que há uma dependência do escalonamento de datas dos jogos. Por exemplo: em uma semana com jogos Domingo, Quarta Feira e no Domingo
novamente, não haveria tempo suficiente para aplicação do treino em campo reduzido com alta intensidade e a necessária recuperação para o jogo subsequente. 

Por outro lado, em uma semana aberta, com jogos Domingo e Domingo, por exemplo, poderíamos dosar o volume e aplicar o treino em campo reduzido até mesmo por duas vezes na semana.

Segue também anexo um esboço dos tamanhos dos campos de acordo com o número de jogadores (de 3x3 até 11x11). Importante estabelecer uma organização prévia (muitas bolas e jogadores que estão de fora dispostos ao redor do campo reduzido) que permita a reposição
de bola em jogo o mais rápido possível para manter a dinâmica e intensidade dos jogos. Se for possível utilizar uma cancha fechada a fim de evitar qualquer tipo de paralisação no transcorrer dos pequenos jogos, melhor ainda. 

Como o objetivo primordial é o de condicionamento físico, os jogos não devem ser interrompidos para correções de ordem técnica e/ou tática.
Finalmente, como último aspecto a ser considerado, esta planilha, tal como apresentada, seria adequada para aplicação apenas em equipes profissionais de alto rendimento da elite do futebol mundial, ou seja, para atletas com notório histórico esportivo e consequente lastro fisiológico, lembrando que, para se alcançar o alto nível de rendimento é necessário:

-Treinar em alto nível de intensidade e com volume coerente (Consistência);
-Talento + Treinamento + Nutrição + Repouso.

E que atletas de alto nível (talentos) são/possuem as seguintes características:

-Velocidade de movimentos;
-Executam o gesto técnico com precisão (técnica/habilidade);
-Poupam energia, ou seja, executam os gestos técnicos com facilidade/naturalidade e simplicidade... sem esforço (automatismo);
-Rapidez para tomar decisões;
-Inteligência de jogo;
-Rápida capacidade de recuperação para os esforços subsequentes;

Confira o plano anual de condicionamento físico através dos jogos em campo reduzido - clique aqui.

Modelos de campos para pequenos jogos - clique aqui.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O tiro de meta dentro do Modelo de Jogo
Trace conteúdos e conceitos que norteiem a ação dos atletas dando ferramentas para que superem os rivais
O tiro de meta se configura como o momento em que o goleiro ou outro jogador repõe a bola em jogo a partir da pequena área. Por conta do local onde esse lance ocorre, entre outras coisas, em algumas equipes o mesmo é negligenciado do ponto de vista organizacional e estratégico. Ou seja, dentro da organização de bolas paradas ofensivas o tiro de meta eventualmente fica de fora.
O que vemos, então, é simplesmente um chutão para frente e logo após uma "briga" pela primeira e segunda bolas.
Algumas vezes isso dá certo, outras não, e as circunstâncias "ocorrem por acaso" (Não!).
Nesse ponto, alguns vão pensar: "Vamos sair jogando, então!"
Contemplar ou não esse lance específico de bola parada não passa por sair jogando curto ou optar por um jogo longo, e sim por traçar conteúdos e conceitos que norteiem a ação dos jogadores dando ferramentas para que eles se sobressaiam ao sistema adversário.
Há inúmeras formas de fazer isso e nesse tipo de lance as equipes partem da organização, em que os jogadores iniciam a jogada em um posicionamento conhecido, dentre outras coisas.
Vou discutir aqui uma das possibilidades de saída de jogo a partir do tiro de meta. Em seguida, algumas atividades serão expostas e vamos discutir o desenvolvimento do conceito.
Vamos definir, então, como nossa equipe hipotética se comportará dentro desse momento.
Optaremos por um jogo de progressão apoiada a partir do tiro de meta, no qual a mobilidade será primordial desde o início da jogada. Como a equipe estará organizada, poderemos traçar algumas metas de ocupação de espaço.
Vejam que nesse momento é importante que haja troca de posições a fim de dificultar a marcação adversária. Claro que se o adversário estiver marcando meio campo, isso se torna desnecessário, mas para fins didáticos estamos partindo do pressuposto que o adversário marcará pressão na saída.
Sendo a mobilidade bem feita, é esperado que haja apoios para o goleiro que fará a reposição - é importante destacar que um passe para um jogador que está à frente da área e de costas para o gol adversário não é muito vantajoso; logo, os passes para as laterais do campo podem ser uma melhor opção, mas tudo isso é circunstancial.
Após a reposição ser feita, o objetivo passa ser progredir no campo de jogo com linhas de passe para frente, com um campo grande e com coberturas adequadas ao portador da bola.
Neste exemplo, o esquema tático utilizado será o 1-4-3-3. Veja no vídeo abaixo o modelo hipotético dentro desse momento do jogo.
 

 
Definido tudo isso, é hora pegar os cones e ir a campo!
Abaixo, apresento duas atividades para o desenvolvimento dos conceitos apresentados acima.
Atividade 1

Descrição
- Atividade de 8 X 7 + G, defesa contra ataque. Sempre que a bola sair do campo e for da equipe que defende, a reposição é feita a partir do tiro de meta. O objetivo da defesa é passar com a bola dominada na linha do meio campo. Isso forçará a mesma a progredir no campo de jogo desde o tiro de meta sob muita pressão.


Regras e Pontuação

Ataque
- 3 pontos se a equipe fizer o gol
-1 ponto se a equipe recuperar a bola antes de a equipe adversária trocar cinco passes
Defesa
- 2 pontos se a equipe passar com a bola dominada na linha do meio campo

Atividade 2

Descrição

- Atividade de 11 X 11, jogo formal com regras que potencializarão as situações de tiro de meta. Sempre que a bola sair em lateral no campo de defesa, a reposição é feita a partir do tiro de meta, preferencialmente de forma rápida, pois haverá um goleiro fora com bola que fará essa reposição. Equipes pontuam quando ultrapassarem a linha intermediária ofensiva em jogadas iniciadas em tiro de meta e quando fizerem o gol.


Regras e Pontuação
- 1 ponto quando a equipe ultrapassar a linha tracejada com a bola dominada em jogadas iniciadas em tiro de meta.
- 2 pontos quando a equipe fizer o gol.
- 5 pontos quando a equipe fizer o gol com jogadas iniciadas em tiro de meta.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Linha de defesa: jogar em linha ou com sobra?
Rodrigo Leitão aborda em vídeo uma ideia sobre o posicionamento em linha, dos jogadores de defesa, sem que haja sobra em profundidade e o posicionamento da defesa, com sobra em profundidade
Tenho participado de discussões muito interessantes nesse pequeno período pós- confronto entre FC Barcelona e Santos, pela partida final do Mundial Fifa de Clubes de 2011. Estive em dois mini-fóruns e tenho mais dois agendados – e o tema ainda diz respeito a construção do jogar da equipe catalã.
Então, pretendo, a partir de abril, produzir um material a respeito destes debates e publicar aqui na Universidade do Futebol.
Por ora, ainda que o assunto “FC Barcelona” me tente a escrever (já!), vou me concentrar em outros temas que também têm gerado debates com colegas do Café dos Notáveis.
Hoje, vou, então, através de uma “vídeo coluna tática”, falar a respeito da linha de defesa das equipes em geral – mais especificamente do seu posicionamento típico – quando elas (as equipes) estão de posse da bola, já no seu campo de ataque.
Tentarei dar uma ideia básica e geral sobre o posicionamento em linha, dos jogadores de defesa, sem que haja sobra em profundidade (comumente observado nas equipes europeias) e o posicionamento da defesa, com sobra em profundidade (comumente observado nas equipes no Brasil).
Antes, porém, meus agradecimentos ao César e ao Feco (analistas de desempenho) e ao Marcelo e ao Gustavo (futuros adversários pelos campos de jogo) pelo empenho e dedicação gratuitos (mas de muito valor para mim)!
Vamos à coluna...