Metodologia de Trabalho

terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Categorias de base: logaritmo de sucesso
Clubes de São Paulo têm dificuldades em montar um planejamento estratégico para formações de jovens atletas. A falta de profissionais especializados em gestão de futebol é ponto chave
Gabriela Chabatura

O estudo realizado demonstra que a dificuldade dos clubes de São Paulo em revelar jogadores está diretamente relacionada à falta de um modelo estratégico e profissionais capacitados para exercerem funções nas categorias de base. O problema pode ser comprovado à análise do trabalho dos clubes de futebol como Corinthians, Palmeiras e Portuguesa. Esses clubes renomearam profissionais para cargos que antes nunca haviam ocupado e, por esse motivo, são encontradas falhas no futebol amador.
O primeiro passo para obter bons resultados nas categorias de base, é nomear profissionais especializados para os cargos, seja de coordenador, coordenador técnico ou diretor técnico. É essencial que o clube contrate uma pessoa gabaritada, com noções sobre gestão de futebol e, sobretudo, saiba lidar com jovens atletas, como assim fez o Desportivo Brasil, Red Bull Brasil e São Paulo. Administrar as categorias de base exige que o profissional tenha vivência e especializações em processo gerencial.
Dado o primeiro passo, os demais se tornam mais fáceis. O bom profissional deve iniciar o planejamento estratégico, ou seja, as diretrizes de seus trabalhos nas categorias de base. É fundamental que ele tenha um prazo de aproximadamente quatro anos, para que os resultados possam ser observados e que não mudem durante o seu percurso. O recomendável é que haja uma atualização do projeto a cada seis meses ao menos, por causa da rotatividade do futebol, e sejam apenas adequações e nunca uma mudança drástica.
Outro item essencial para o sucesso no futebol amador é a comunicação. É indispensável a conversa entre os profissionais das categorias de base e os profissionais da equipe principal. Uma vez a cada mês, pelo menos, deve haver reuniões para que a base possa explanar seus problemas e ouvir do time profissional quais são suas necessidades para poder supri-las. Essa comunicação facilita o conhecimento entre os dois setores e abre um leque de possibilidades ainda maior para que o técnico profissional observe os atletas da base em jogos-treinos, amistosos e outros trabalhos de avaliação.
A comunicação não se priva apenas no relacionamento com a equipe profissional. Ela deve ser cultivada de maneira exemplar também entre todas as categorias da base. O São Paulo faz um trabalho bem estruturado quanto a isso (leia mais no capítulo "Estrutura e Métodos de trabalho dos clubes de São Paulo"). Uma vez por semana, profissionais se reúnem e trocam experiências sobre a metodologia. Isso é importante para que todos os setores estejam bem ramificados e não haja erros de comunicação. A comunicação, relacionamento e interação é a base para o sucesso.
O bom relacionamento também deve ser levado para fora do clube. Isto é, deve-se prezar por uma comunicação cordial e ética com outros clubes – isso pode facilitar futuras negociações. Este ponto, inclusive, foi discutido em um seminário na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) inédito, idealizado por Ney Franco e René Simões em abril de 2012. No encontro, foi acordado um plano ético, em que os times não mais negociarão com atletas sem antes consultar o clube, além de calendário de competições específicas para categorias. Isso deve expandir também a relação com a imprensa, já que ela é responsável pela dissipar a marca do clube.
Voltando ao plano estratégico, o clube deve definir seu modelo de jogo. Essa filosofia ainda é difícil de ser entendida por clubes brasileiros e entre os aqui pesquisados apenas o São Paulo e Red Bull Brasil o possuem. O modelo de jogo vai definir quais são as características do time dentro de campo e quais atletas são qualificados para fazer parte do elenco. O exemplo mais claro é o trabalho que tem sendo feito no Barcelona, da Espanha. Se observado todas as categorias do clube catalão, todos os times jogam em único modelo e não há diferenças para o profissional, mesmo tendo no principal, talentos como Lionel Messi. O resultado? Uma equipe que era tida até 2011 como imbatível e atletas de carreira duradora no clube, como é o caso de Xavi Hernández, que é formado e está há mais de 20 anos no Barcelona.
O modelo de jogo vai minimizar a necessidade de o clube em gastar cifras astronômicas para contratar jogador do exterior e correr o risco dele não dar certo no futebol brasileiro. Com a base fortalecida, raramente o clube vai precisar ir ao mercado contratar e, quando for, já terá as características ideais do jogador que ele precisa negociar para enquadrá-lo à necessidade do treinador. Uma prática muito comum no futebol brasileiro é o treinador depender de apenas um jogador e montar um esquema tático todo em cima dele. Quando isso acontece, a probabilidade de a equipe fracassar aumenta. Vide o exemplo do Palmeiras com o chileno Jorge Valdivia. O clube repatriou o meia em 2010, depois de boa passagem em 2007 e 2008, por aproximadamente R$ 13,7 milhões e dois anos depois ele sofreu uma série de lesões (ao total são dez). Consequência, o time sofreu com a falta de um camisa 10, já que não havia nenhum atleta substituto com as mesmas características.
Outro ponto também que deve ser planejado, é a avaliação de cada garoto de maneira individual. É impossível avaliar os garotos como um todo, sendo nenhum ser humano é igual ao outro e têm as suas particularidades. Isso atribuído, cabe ao clube decidir se traçará um plano de carreira ou não. Em alguns casos, o próprio agenciador do atleta é quem faz, mas se o clube optar por fazê-lo deve analisar o momento do jogador e, conforme o desempenho durante o ano ir acrescentando ou diminuindo metas para a carreira deste futuro atleta. Um case de sucesso é o que Santos conseguiu com Neymar. O Santos obteve patrocinadores para bancar o salário do atacante, estender o vínculo, atribuir uma multa milionária no contrato e, o mais importante, segurá-lo no Brasil mesmo com sondagens de clubes poderosos do exterior.
A participação em competições também deve ser pensada. Não é recomendado, aceitar o convite de uma federação um mês antes de o torneio começar. O clube já precisa estar organizado e ter o calendário como uma das suas diretrizes no planejamento estratégico. Deve-se pensar na visibilidade da competição, duração, custos e se irá desgastar ou não seus jogadores. Os torneios internacionais – ao menos um ao ano – têm prestígio e dão a possibilidade de expor a imagem (algo que precisa ser trabalhado paralelamente com o departamento de marketing). Uma possível perda de título não deve destruir um planejamento e sim servir de alerta para otimizar o trabalho.
Além da gestão, o clube precisa investir em uma boa estrutura para obter bons resultados nas categorias de base. Um bom planejamento e uma boa estrutura devem andar juntos, nunca investir apenas em um setor. A partir do momento que você lida com atletas em formação, e principalmente garotos na fase da adolescência, é indispensável o investimento em assistência social e acompanhamento psicológico. As fantasias do futebol, convívio longe da família e pressão por resultados serão bem controlados se houver tais investimentos.
Os clubes de São Paulo ainda estão despreparados para trabalhar com suas categorias de base. Enquanto o pensamento empresarial não foi colocado em prática, eles vão sofrer com a falta de retorno de seus investimentos. Espero que o presente trabalho possa contribuir para a discussão do desenvolvimento de um novo modelo administrativo para as categorias de base.