Metodologia de Trabalho

terça-feira, 9 de junho de 2015

A formação acadêmica para os treinadores de futebol: ter ou não ter o diploma?
Afinal, o comandante da equipe deve ter formação? Ex-jogador ou professor de educação física? O curso especializante basta? E sem curso dá pra dirigir algum time?

Por Gabriel Pessanha Chagas

1 - Introdução
Futebol, o esporte mais amado pelos brasileiros. Lazer, para alguns. Para outros, o trabalho. Nesse artigo, irei falar um pouco mais sobre um cargo muito importante no meio futebolístico: o treinador de futebol. Mais especificamente, irei discutir sobre a importância da formação acadêmica para o treinador. Afinal, o comandante da equipe deve ter formação? Ex-jogador ou professor de educação física? O curso especializante basta? E sem curso dá pra dirigir algum time?

No meio do futebol, muito preconceito existe com quem não foi “boleiro”. Desde dirigentes, até os próprios jogadores, existe uma rusga com quem não jogou bola e tenta a vida dentro da área técnica. Medo de não funcionar, talvez. Medo de a aposta dar errada e de ser a resposta quando alguém perguntar quem colocou aquele professor de educação física que afundou o time. Despeito, talvez, de não serem considerados legítimos treinadores de futebol, visto que a lei 6.354, de 2 de setembro de 1976, em seu vigésimo sétimo artigo, diz: "Todo ex-atleta profissional de futebol que tenha exercido a profissão durante 3 (três) anos consecutivos ou 5 (cinco) anos alternados, será considerado, para efeito de trabalho, monitor de futebol”. (BRASIL, 1976)
A verdade é que tal preconceito existiu e sempre vai estar no Brasil, até que o futebol seja profissionalizado de verdade e o amadorismo pare de reinar pelos gramados brasileiros. Cabe a nós, treinadores, que busquemos mudar essa visão antiquada e que quem comande o time seja, de verdade, o mais bem preparado para tal função. Não só por isso, mas sendo um dos fatores preponderantes também, vemos o nosso futebol cada vez mais ultrapassado pelo restante do mundo. Para ilustrar, as ligas da UEFA exigem a formação no curso da própria entidade para todos os técnicos que disputam seus campeonatos. Todos devem fazer os cursos até chegar o nível máximo, para, assim, poder assumir as equipes que disputam os campeonatos de ponta da Europa.
A rigidez com a formação é tão grande lá, que podemos citar o caso do francês Zinedine Zidane, ex-jogador, famoso internacionalmente e, agora, treinador de futebol. Ele treina a equipe do Real Madrid B, o Castilla, mas não tinha licença para tal, sendo um dos seus assistentes que assinava a súmula por ele. Descoberto tal fato, a UEFA puniu com 3 meses de suspensão do comando da equipe, mostrando que a entidade é rígida até mesmo com quem já foi um dos maiores jogadores do mundo. Vale lembrar que Zidane já estava no final de seu curso que o habilitava a treinar a equipe, embora estivesse errado do mesmo jeito.


2 - Desenvolvimento

A formação acadêmica para os treinadores de futebol é extremamente importante por vários motivos. Primeiramente, falando dos cursos preparatórios para a função, a necessidade é clara: não se pode acreditar e aceitar que em um futebol tão avançado e moderno, a antiga ideia de que para comandar uma equipe basta ter jogado de futebol ainda exista. Hoje em dia, com tantas variáveis, desde tecnologias, possibilidades de avanço em termos de treino, entre outros, não se pode concordar que um simples ex-jogador possa assumir um time, sem nenhum time de preparação. Como dito anteriormente, se uma entidade como a UEFA puniu um ex-jogador como Zinedine Zidane por não ter o curso completo, por que aqui deve ser diferente?
Ninguém pode fazer um trabalho sem ter estudado, sem ter se preparado para tal função. Esse tipo de processo só acontece, infelizmente, no futebol brasileiro. Porém, como alegria para o país, cada vez mais o interesse pelo estudo, pelo aperfeiçoamento aumenta nas cabeças de nossos comandantes. Dessa forma, cada vez menos se encontra técnicos completamente despreparados. Seu espaço no mercado vai diminuindo, já que por sua falta de preparo, não consegue obter resultados contundentes.

Em relação à formação em Educação Física, há uma grande discussão sobre a necessidade do diploma. Em um primeiro momento, temos que analisar o fato de que o treinador é, acima de tudo, um professor. Sua função é ensinar, explicar, comandar, ordenar. Quem, de fato, tem a qualificação para tal é o formando em Educação Física. Em um segundo momento, devemos analisar quais são as outras funções e suas participações dentro do clube. Acredito que, como comandante do time, ele seja um elo entre todas as variáveis presentes. Fisiologia, preparação física, tática e técnica, departamento médico, entre outros, são funções que existem dentro de uma comissão técnica e que trabalham para o bom funcionamento da equipe. Se o elo maior entre todos os departamentos não souber o básico das outras funções, como ele irá desempenhar a função de uni-los?
Num futebol, em que cada vez mais se fala sobre a interdisciplinaridade dentro da comissão técnica, não existe possibilidade de o chefe da equipe não saber como liderar os outros cargos. E essa preparação se consegue dentro da faculdade. Não podemos esquecer, jamais, que o técnico é e deve ser sempre um estudioso do corpo humano, já que lida com ele em seu desempenho máximo.

Como exemplo, podemos lembrar treinadores extremamente competentes, vitoriosos e que vieram das salas de aula das universidades, acabando assim com o preconceito de que esses não podem ser bons comandantes de equipe. José Mourinho, “The Special One”, nunca jogou bola profissionalmente, fez a faculdade e hoje é um dos melhores (se não o melhor) treinadores de futebol do mundo em atividade. Seus títulos e vitórias comprovam isso. Seu pupilo, André Villas-Boas, da mesma forma, também usou seu diploma para adentrar os gramados.
Para citar um exemplo mais próximo de nossa realidade e que ressalta como a formação é importante, podemos falar também de Vanderlei Luxemburgo. Luxa, como é conhecido, foi jogador de futebol e se engana que por isso virou treinador. Antes, consciente da necessidade do aprendizado, ele se lançou nas salas de aula para aprender o que é necessário para desempenhar sua função. Assim, é um dos diversos técnicos que tem a noção de que a formação na Educação Física, mesmo com toda a sua experiência adquirida durante sua carreira de jogador, é extremamente importante para a carreira no banco de reservas.

Para ilustrar, também podemos falar sobre como acontece a formação de um treinador de futebol americano, basquete e outros esportes nos Estados Unidos, como modo de comparação, apenas. Lá, o “coach” é formado através de um longo processo, na maioria das vezes, em que ele vai subindo de degrau em degrau, saindo desde um simples professor do esporte no colégio, indo para a faculdade, até chegar às principais ligas do país. Logo, o técnico tem a preparação adquirida na Educação Física e a experiência de ter passado por todo um tempo de preparo durante o período treinando o colégio e a faculdade, chegando ao mais alto nível esportivo.

Segundo Cunha (2009), “os professores de Educação Física possuem conhecimentos em fisiologia, anatomia, biomecânica, crescimento e desenvolvimento humano, pedagogia, aprendizagem motora, nutrição, possuem também conhecimento sobre psicologia, sociologia, medicina e antropologia do esporte. As formas de ensino das habilidades motoras básicas e específicas do esporte também são fornecidas na faculdade de educação física. O problema é que não tem muita experiência em competição, principalmente de alto nível.”
Tal citação exemplifica muito bem todos os benefícios que a faculdade trazem para o futuro profissional do futebol, embora fale também da dificuldade em que enfrentam a respeito da experiência. Porém, também deve ficar claro que ninguém nasce com essa experiência e que ela só pode ser conseguida através de anos de trabalho, esforço e dedicação.

3 - Conclusão

Podemos concluir, então, que a formação acadêmica é extremamente importante para o bom desempenho da função de treinador de futebol. Vimos que o curso de preparação para o cargo é necessário e que é inadmissível que ainda exista alguém que comande uma equipe no futebol brasileiro e que não tenha feito nenhum tipo de curso para tal.

Concluímos, também, que o professor de Educação Física pode, sim, ser um excelente técnico e que o preconceito que existe em relação a esse fato é completamente infundado. O formando em tal curso é, sim, mais preparado para assumir o cargo, devido aos inúmeros aprendizados que ele obtém dentro da universidade. É claro, também, que como para os ex-atletas, os professores também devem fazer os cursos preparatórios e também devem se especializar para poderem trabalhar no meio futebolístico. A verdade é que merece estar a frente da equipe aquele que melhor se preparar para isso e, dessa forma, o estudo do futebol aparece como a principal necessidade existente para que nosso país volte a reinar como um dos maiores do mundo nesse esporte.